… no que fomos, no que vivemos, naquilo em que nos tornámos. Vi a pessoa por quem um dia me apaixonei, com os mesmos olhos com que um dia a amara. Lá estavam todos os pormenores, todas aquelas qualidades que aos olhos inocentes de quem gosta parecem sempre fascinantes, todos aqueles grandes obstáculos, que aos olhos de quem ama, parecem sempre pequenos. Fechei os olhos… para recordar o teu colo, onde me aninhava como um botão de rosa, senti a tua mão a acariciar-me os anéis do cabelo, os teus lábios macios a deslizar sobre a minha pele e ali ficava eu com as pétalas ao vento. Voltei a sentir tudo o que sentia quando me abraçavas – aquela sensação de que o mundo podia ruir lá fora que nada atormentaria o nosso amor aqui dentro. Hoje acordei a pensar em ti… nos teus hábitos, nas tuas rotinas que conheço de olhos vendados, a forma como saltas da cama, como fazes a barba, como retires as gotas de água da tua pele macia, a forma como te moves para vestir o teu corpo, o ritual da torrada molhada no leite, a forma como me beijavas ao dizer «-Bom dia!». Hoje acordei a pensar em ti… nos pequenos nadas que se tornaram diferenças colossais entre nós, nas pequenas insignificâncias que de tão pequenas que foram, minaram toda a grandeza de um grande amor. O que faríamos se o ponteiro do relógio voltasse atrás? Até onde o faríamos recuar? Quais os momentos que apagaríamos, quais aqueles que viveríamos mais intensamente? Quais os momentos que deixámos por viver? Olho para o meu relógio que marca um tempo tão distante do nosso tempo, esqueço-me dos minutos, dos segundos, deveres e compromissos. Fecho novamente os olhos… volto a ser um botão de rosa, hoje sem cor, sem brilho, amachucada pelos dias insanos e voo até ti para me aninhar e proteger no colo.
(autor desconhecido)
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